Conforme tinha prometido, aqui fica o post com uma parte de mais um trabalho do Prof. Marco Pereira. Desta vez, o tema é a "Improvisação" e surge do interesse pelo artigo “Réagir”, publicado na revista “musique en jeu” nº1 (1770) da autoria de Vinko Globokar. Neste trabalho o Prof. Marco Pereira procede a uma contextualização histórica do termo musical improvisação, a uma descrição do trajecto musical de Vinko Globokar e à análise do seu artigo “Ils improvisent… Improvisez… Improvisons…”.
A Improvisação trata-se da capacidade que certos músicos possuem de poder integrar-se num determinado sistema musical, mantendo a estrutura essencial do trecho, e tocar notas que não foram previamente escritas pelo compositor. Trata-se de em tempo real, no exacto momento em que se toca executar variações em torno de algo que serve de base.
“[…]a improvisação é uma actividade submetida a certas regras que se relacionam tanto ao nível interpretativo (aspectos técnicos e expressivos da execução) como à capacidade criativa (que determina a selecção, organização e manejo dos materiais musicais) do músico que a realiza". (La improvisacion musical - Violeta Hemsy de Gainza – 1986)
Actualmente o termo improvisação é frequentemente associado ao Jazz. No entanto a improvisação sempre existiu, mesmo nos primeiros géneros musicais classificados como música erudita. A improvisação está presente nos melismas da Idade Média. Na Renascença e após a notificação da escrita musical, a improvisação fazia-se em quadros precisos. A época Renascentista vê a arte instrumental tentar acompanhar a arte vocal e numerosos compositores irão publicar versões ornamentadas de peças vocais. É sobretudo na época barroca que a ornamentação improvisada tem um grande destaque principalmente em instrumentos como o alaúde e o cravo, onde fazia parte do trabalho normal do intérprete saber improvisar. Os cantores deveriam saber praticar esta arte, de forma a poderem ornamentar a repetição de uma ária da capo. Também na música dos períodos clássico e romântico os compositores deixavam espaços reservados para a livre criação do intérprete (as cadenzas). “No início do século XX, …, a improvisação far-se-á notar sobretudo pela sua utilização intensiva e quase obrigatória pelos jazzmen americanos […] (Frédéric Platzer, Compêndio de música, edições 70, pg. 108).
Vinko Globokar
Vinko Globokar nasceu em Anderny (França) a 7 de Julho de 1934, mas foi na Jugoslavia onde viveu entre 1947 e 1955 que surge como trombonista de jazz. Faz os seus estudos no Conservatório Nacional Superior de Paris e mantém uma actividade de Trombonista solista. Globokar suscita a criação de toda uma literatura contemporânea de trombone e um vasto número de obras a ele dedicadas. Paralelamente estuda composição e direcção de orquestra com René Leibowitz e Luciano Berio. Estreou obras de Luciano Berio, Mauricio Kagel, Karlheinz Stockhausen, René Leibowitz, Louis Andriessen, Toru Takemitsu e como maestro trabalhou com orquestras como Westdeutscher Rundfunk, Radio France, Radio Helsinki, Radio Ljubljana, e orquestras filarmónicas de Warsaw e Jerusalém.
Compôs a sua primeira obra (Voie) com trinta anos de idade e possui actualmente um catálogo de cerca de sessenta composições de vários géneros entre os quais, para orquestra, coro solistas e teatro musical. Como compositor Globokar é dificilmente classificável. Ele compõe obras centradas sobre o repertório para voz e instrumento (Discours II à VIII) ou do texto à musica (Voie, Kolo). Por outro lado ele interessa-se pelo potencial inventivo do interprete, convidando-o a criar colectivamente (Concerto Grosso, Individuum/Collectivum). Paralelamente ele compôs obras musicais caracterizadas por vários elementos teatrais. Em determinadas obras ele ataca os problemas de ordem social (Les Emigrés, L'Armonia Drammatica). Para compor ele inspira-se sobre questões situadas em redor da música, politicas sociais e humanistas, inventando novas técnicas, materiais e formas de apresentação. Ele considera que todo o modelo de organização existente na natureza ou na cultura podem, pode advir música.
Para Globokar um instrumento significa uma extensão dos seus desejos musicais, através do trombone ele respira, canta e fala simultaneamente.
"The function of music has changed, the tonal language has decayed in the last two centuries and there is no point in reviving it. There's no way back, today's world cannot be described with beautiful melodies.”
(continua)
(*Pintura de Kandinsky - "Improvisação")
1 comentário:
Nem imaginam o que tenho aprendido ao ler e postar estes trabalhos que me enviam para serem publicados. No entanto, este trouxe ainda mais uma novidade. É que finalmente percebi que o que eu faço melhor é improvisar. Senão vejamos, se realmente a improvisação é "a capacidade que certos músicos possuem de poder integrar-se num determinado sistema musical, mantendo a estrutura essencial do trecho, e tocar notas que não foram previamente escritas pelo compositor", eu sou de facto uma "barra" nisto porque tenho uma facilidade imensa de dar notas trocadas.:) ora, isso para mim "Trata-se de em tempo real, no exacto momento em que se toca executar variações em torno de algo que serve de base". Pode não "soar" muito bem, mas a base está lá.
Agora uma coisa é certa, admiro o Sr.Globokar quando diz que "um instrumento significa uma extensão dos seus desejos musicais, através do trombone ele respira, canta e fala simultaneamente". Eu não consigo tanto, respirar no tempo certo é um desassosego, quanto mais "comunicar os meus desejos musicais".
Agora falando muito a sério e sem tons irónicos e de brincadeira dá-me um gozo imenso publicar estes trabalhos porque aprendo muito também. Mas também discordo da opinião do Globokar num ponto: para mim "today's world can be described with beautiful melodies. They are so many beautiful things in the World and the music can reflect them".
*só espero que "o anónimo" ou o Ic não aproveite a "maré" e comece a descarregar o seu inglês de dicionário:)
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