quarta-feira, maio 09, 2007

Reprodução Cultural e Reprodução Social - Pierre Bourdieu (Comentário)



Para uma leitura mais alargada, fica a postagem do conteúdo de um trabalho realizado pelo Professor Marco Pereira (professor de flauta na Escola de Música da BBVE), inserido na temática de Sociologia da Educação. Publicaremos, ainda, um outro trabalho relacionado com a Improvisação.


O ser humano é desde a sua existência parte integrante e activa de um meio social, onde maneiras de falar, pensar e actuar, interagem. O percurso individual de cada pessoa está intimamente relacionado com as escolhas que o nosso meio nos proporciona.
O estudo realizado por Pierre Bourdieu demonstra de forma clara e objectiva que não se pode dissociar a relação função de reprodução cultural/reprodução social.
Segundo Bourdieu, para se adquirir o legado cultural das gerações anteriores, é necessário possuir meios de apropriação e decifração cultural. É no seio familiar que primeiramente o indivíduo toma ou não posse destes meios, conhecimentos e técnicas preponderantes para que mais tarde o ensino seja mais ou menos eficaz. Assim a família tem um importante papel, para que no primeiro dia de aulas, a criança esteja na posse de todos os meios, de forma a adquirir os conhecimentos que lhe sejam transmitidos, bem como a escola, deve atenuar as desigualdades que surjam das diferentes educações familiares.
Apesar disso, é evidente que as famílias pertencentes a classes consumidoras de bens culturais, na posse do poder económico e investidoras da maioria do capital no mercado escolar, proporcionam ao indivíduo um maior acesso aos instrumentos de decifração e apropriação dos códigos culturais.
Verifica-se que a frequência de determinadas práticas culturais como leitura, frequência do teatro e de salas de concerto, é maior ou menor consoante o grau de educação. Sendo assim as classes com maior poder económico, são as que mais investem no ensino e na cultura, produzindo de geração para geração uma maior desigualdade cultural e económica.
Este ciclo vicioso que faz com que o capital cultural retorne ao capital cultural, não impede que determinados indivíduos provenientes de classes inferiores se movam com sucesso dentro destes ciclos culturais e sociais, ainda que com maior dificuldade. Visto que a motivação que leva o cidadão das classes média e baixa a ascender no meio social não é a mesma que induz o indivíduo da classe dominante a se manter na mesma.
Verifica-se que nos dias de hoje, aproximadamente quatro décadas após a conclusão do trabalho do autor, a realidade é muito diferente. O desenvolvimento dos meios de comunicação social e o seu fácil acesso e o aparecimento da Internet tiveram um importante papel no desenvolvimento cultural de toda a sociedade e actualmente verifica-se que o acesso ao ensino superior aumentou de forma massiva.
No entanto é de salientar que o número de jovens habilitados com formação superior aumenta, à medida que aumenta o desemprego dos mesmos, enquanto que outros trabalham em condições precárias. Ou seja, mais formação não implica mais capital e poder económico.
Verifico desta forma que o acesso à cultura e aos meios de apropriação da mesma teve uma grande evolução na sociedade em geral. Apesar disso, o monopólio e a rentabilização da cultura continua a pertencer a quem tem o poder económico e o monopólio do mercado de trabalho, continuando conclusivamente a desigualdade social ainda que diferente da existente nos anos setenta.


www.marcojtpereira.wordpress.com

1 comentário:

Manuela Cunha disse...

O Bourdieu tem a sua razão, no entanto, parece-me importante salientar que as pessoas com maior poder económico na sociedade e as que mais influência têm, são já sabemos, as que mais facilmente têm acesso à cultura e aos meios culturais que se promovem. Contudo não são de certeza as que mais valorizam a cultura, no seu aspecto de riqueza ou arte. Trata-se de um comportamento ou de um acto social "consumir" cultura,vai-se ao teatro porque é bonito e porque é chique. Alguns lá sabem quem foi William Shakespeare e saem do teatro sem conseguir dar um sentido a nenhuns dos actos. Outros vão ao concerto de música clássica porque é "socialmente bem" e sabem lá eles distinguir um violino de uma tuba.
Agora uma coisa é certa, quantos mais "estímulos" culturais tivermos enquanto somos crianças e durante a nossa educação, mais predispostos estamos para assimilar a cultura, para a procurar e para a perceber.