domingo, outubro 08, 2006

Pequenas Crónicas - Psicologia (e/da) Música


Psicologia e música: duas ciências que interligadas oferecem um universo de conhecimento muito rico! As Pequenas Crónicas serão um resumo de alguns conteúdos interessantes que tocam estas áreas e um meio de divulgação de aspectos interessantes relacionados com a Música.


Em Março deste ano esteve na Universidade de Aveiro e em Lisboa um investigador americano a quem se devem alguns dos maiores contributos no âmbito da Psicologia da Música e da Pedagogia Musical da actualidade, Edwin Gordon.
As investigações de Edwin Gordon, no âmbito da avaliação da aptidão e do desempenho musical, nomeadamente no que respeita à sua teoria da aprendizagem musical, e, muito especialmente, o que propõe como orientações musicais para recém-nascidos e crianças em idade pré-escolar têm tido um enorme eco no nosso país.
A sua vasta participação em revistas de investigação especializadas e a autoria de uma teoria de aprendizagem musical, a par da co-autoria do currículo de iniciação instrumental Jump Right In, tornaram Edwin Gordon internacionalmente reconhecido como um dos maiores pedagogos da actualidade, sendo um conferencista de renome mundial.
Além do trabalho de orientação de inúmeras teses de doutoramento no campo da Psicologia da Música e da Educação Musical, o Professor Edwin Gordon dedica-se há mais de 30 anos ao estudo do desenvolvimento musical de crianças recém-nascidas e em idade pré-escolar. O seu contributo nesta área de estudo é absolutamente inovador e sólido. O seu trabalho tem sido divulgado em Portugal desde 1994, marcando decisivamente as práticas educativas e artísticas do panorama musical português.

  • Do paradigma de "como se ensina" para o paradigma de "como se aprende".

    Em 1968 Edwin Gordon publicou uma monografia intitulada "How children learn when they learn music". Este título poderá resumir uma importante mudança de atitude relativamente às questões do ensino. De facto, de uma forma geral a grande preocupação dos educadores era - ou é? - a de "como se deve ensinar Música". Edwin Gordon descentra-se do papel do educador e interroga-se: "como e que as crianças aprendem?". Julgo que esta é uma importante ruptura com a educação tradicional, centrada sobre o que o Professor tem para ensinar. A teoria de aprendizagem musical propõe-se, antes, compreender o processo do aprender. É uma teoria acerca de como as crianças aprendem competências e conteúdos musicais.

  • Algumas ideias acerca do que significa ensinar Música.

    "(..)É necessário voltar às coisas simples, à capacidade de formular perguntas simples, perguntas que, como Einstein costumava dizer, só uma criança pode fazer, mas que, depois de feitas, são capazes de trazer uma luz nova à nossa perplexidade. " (Santos, 1998, p.6)

    Edwin Gordon tem sido particularmente crítico em relação ao ensino musical que privilegia a imitação e não forma músicos capazes de actuar musicalmente de uma forma autónoma e independente. Isto é, deveríamos ser capazes de nos apropriamos da Música da mesma forma que nos apropriamos da linguagem: para comunicar, em sentido lato. Para contar histórias dos outros mas também. para as contarmos segundo as nossas próprias palavras e para contar também as nossas próprias histórias.
    Algum ensino tem-se centrado na imitação e repetição, na leitura e teoria musical, castrando totalmente o desenvolvimento auditivo e a possibilidade de aquisição de um discurso musical próprio e de síntese pessoal. Concretizando: no mundo dos músicos da chamada música erudita nem sempre há a flexibilidade para, por exemplo, "tocar de ouvido", harmonizar, transpor, "tocar a la Mozart, ou Chopin, ou outro", para acompanhar uma melodia conhecida que alguém vai cantando, para improvisar, para se integrar com facilidade em músicas com uma fluência rítmica diferente da estritamente convencional, etc. São imensos os casos de excelentes intérpretes - e não só - que, não obstante o elevado nível artístico do seu desempenho musical, têm grandes limitações nas situações apontadas. Deveríamos perguntar-nos porquê.

In Revista de la Lista Electrónica Europea de Música en la Educación

(continua)

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